Atualmente os centros de dados fazem estimativas rápidas do epicentro e / ou da profundidade focal dos sismos, antes da análise detalhada dos registros. O software de análise do sismograma marca no registo os tempos de chegada teoricamente esperados para as principais fases sísmicas. No entanto, os tempos de chegada calculados através do modelo de propagação das ondas usado e o aparecimento dessas ondas, podem não coincidir, pelo que o tempo teórico de chegada de uma fase deve apenas servir de guia para a identificação da fase mas não deve influenciar de forma alguma a marcação do tempo origem dessa fase.
Assim, num centro de processamento e análise de dados de uma rede de vigilância sísmica, os operadores de serviço devem rotineiramente ser capazes de: a) reconhecer no registo a ocorrência de um sismo; b) identificar e anotar as diferentes fases sísmicas; c) determinar o início da fase e a sua polaridade de forma correta; d) medir a amplitude máxima do movimento do solo e o seu período; e) calcular o azimute e a lentidão de uma fase, e f) determinar os principais parâmetros da fonte sísmica, hipocentro, tempo de origem, magnitude, mecanismo focal, etc.
Estas tarefas são atualmente realizadas usando sismogramas em formato digital, e implicam um conhecimento adequado de todo o processo que levou à obtenção do sismograma, desde a produção do sinal sísmico na fonte, passando pela propagação das ondas sísmicas, até ao seu registo pelo instrumento, incluindo a conversão de sinal e os processos de filtragem que levaram à formação da imagem que vai ser interpretada.
Tempo de chegada, amplitude, período e polaridade:O início do registo de qualquer sismo é marcado pela chegada da onda P, por isso, a determinação das suas características corretas é de primordial importância. Em muitas redes sísmicas, os alertas rápidos são baseados apenas na leitura do tempo de chegada e na amplitude da fase P.
O reconhecimento do início de uma fase sísmica depende da razão sinal/ruído (a identificação de fases posteriores à primeira chegada é dificultada pela energia do próprio sismo em curso), das condições de visualização e da forma do sinal de origem. Por convenção, é usual classificar o início de uma fase de uma onda volúmica como impulsiva (i) ou emergente (e), consoante este seja mais pronunciado ou mais suave. Esta classificação dá uma ideia qualitativa da precisão com que a leitura pode ser feita.
A polaridade do primeiro movimento da onda P é importante para a determinação do mecanismo focal que caracteriza a fonte sísmica. Se o primeiro movimento for para cima, ele deve ser indicado como uma compressão (c) e se for para baixo, deve ser marcado como uma dilatação (d). Nos boletins sísmicos é possível encontrar a designação alternativa de "u" e "r" (u de up e r de rarefaction) usada quando as leituras são feitas nos registos de instrumentos de longo período (LP) ou de banda larga (BB). A leitura desta informação deve ser feita num registo sem filtragem ou com um filtro aplicado que distorça minimamente a forma da fase.
Critérios para a identificação de fases:A razão VP/VS, entre as velocidades de propagação das ondas P e das ondas S, é uma característica do meio relacionada com as suas propriedades elásticas e tem um valor aproximado de raiz de 3. Isto significa que a diferença tS-tP, entre os tempos de chegada das fases S e P deve variar de forma quase linear com o tempo da fase P.
Um gráfico em que se represente a diferença de tempos das fases S e P em função do tempo da fase P designa-se por diagrama de Wadati. Quando existem registos de várias estações sísmicas, este diagrama é extremamente útil para verificar a consistência na interpretação das fases de volume e facilmente detetar um erro. Quando o tempo de chegada é insuficiente para identificar uma fase sem ambiguidade, é necessário recorrer a outras características como sejam a amplitude, o período dominante ou a forma da onda.
A amplitude das ondas sísmicas varia com a distância devido ao efeito da atenuação geométrica, a efeitos de focagem resultantes da heterogeneidade do meio e devido à atenuação inelástica (absorção da energia sísmica). Enquanto a energia das ondas de volume se espalha pela superfície de uma esfera (aproximada) cada vez maior, com uma área proporcional ao quadrado do seu raio, a energia das ondas superficiais espalha-se por cilindros cada vez maiores, com uma área proporcional ao seu raio. Adicionalmente, por terem geralmente maior comprimento de onda, as ondas de superfície sofrem menor atenuação e são menos afetadas por heterogeneidades estruturais de pequena escala do que as ondas de volume. Isto significa que em sismos de foco superficial (h < 70 km), a partir de uma certa distância, os registos de banda larga ficam dominados pelas ondas superficiais. Nos sismos de foco intermédio (h > 70 km) ou de foco profundo (h > 300 km), a energia das ondas superficiais diminui drasticamente não chegando a ultrapassar a amplitude das ondas de volume. A grandes distâncias, as ondas de superfície apenas aparecem em sismogramas de aparelhos de longo período (LP) ou de banda larga (BB).
Em relação às ondas de volume, numa fonte sísmica típica, a energia das ondas S gerada na fonte é cerca de 5 vezes maior que a energia das ondas P. É de esperar por isso que a fase S seja de maior amplitude que a fase P para sismos naturais. Por outro lado, a frequência mais alta gerada como onda P é cerca de raiz de 3 vezes maior (≈1,7) que a mesma frequência para a onda S gerada. Este facto, aliado à observação de que a atenuação das ondas S (transversais) é maior que a atenuação das ondas P, contribuem para que num registo sísmico as fases P tenham um conteúdo em frequências mais altas do que as ondas S. Como consequência, as ondas S diretas e as suas múltiplas reflexões e conversões, dentro das distâncias telessísmicas, são observadas principalmente em registros de longo período (LP) ou de banda larga (BB). Já as diferentes fases da onda P, (como as fases P, PcP, PKP e PKKP), são bem registadas, até distâncias epicentrais, por sismógrafos curto período (SP), com amplitude máxima normalmente em torno de 1 Hz.
A complexidade de uma fase das ondas de volume está relacionada com a duração e complexidade da rotura sísmica que lhe deu origem. Esta duração é reduzida (inferior a 1 s) para pequenos sismos locais mas pode-se alargar a vários minutos para os grandes sismos. Para as mesmas magnitudes, os sismos profundos têm, em geral, processos de rotura mais simples e curtos, excitando mais as altas frequências do que um sismo superficial.
Explosões em pedreiras ou em minas podem originar forte atividade sísmica Os maiores destes eventos têm geralmente magnitudes locais na faixa de 2 a 4, podendo ser registados até distâncias de vários milhares de quilómetros. As explosões podem ter mecanismos de rotura simples ou complexos, consoante a forma de disparo usada. Em geral, estas explosões não geram ondas transversais (S) na fonte e por isso as ondas S que são observadas resultarão de conversões de energia e devem ter menor amplitude que as ondas S de um sismo equivalente. Assim, a relação entre as amplitudes das ondas P e S, em explosões químicas ou explosões nucleares subterrâneas, é geralmente maior do que em sismos tectónicos, que têm essencialmente origem em fraturas por cisalhamento.
Polarização das ondas:Pela sua própria natureza, todas as ondas sísmicas, de volume ou superficiais, são polarizadas. Apesar do registo sísmico ser feito segundo os 3 eixos geográficos S→N, W→E e Z (sentido positivo para cima), a interpretação da polarização das ondas é mais clara quando os eixos horizontais são substituídos pela direção R (radial, sentido positivo na direção da fonte) e pela direção T (transversal, sentido positivo para a direita quando de frente para a fonte). As ondas P e S estão linearmente polarizadas (com pequenos desvios desta situação ideal, devido ao facto da Terra não ser heterogénea e ser parcialmente anisotrópica). As ondas de superfície podem ser linearmente polarizadas no plano horizontal perpendicular à direção de propagação da onda (polarização transversal; direção T; por exemplo, ondas de Love) ou elipticamente polarizadas no plano vertical, orientado na direção radial (R) de propagação das ondas (ondas de Rayleigh).
Assim, neste sistema de eixos (R, T, Z), as ondas P apresentam polarização linear no plano (R, Z), as ondas SH e as ondas de Love estão polarizadas segundo a direção T, as ondas SV estão polarizadas no plano (R, Z) e as ondas de Rayleigh estarão também polarizadas no plano (R, Z). Se for conhecido o epicentro, uma rotação do registo sísmico nas direções (R, T, Z) pode ser um auxiliar precioso na identificação e marcação de fases.
As fases P e todos os seus múltiplos, reflexões e conversões (incluindo a fase SKS que contêm um trajeto no núcleo externo) mantêm as mesmas características de polarização no plano (R, Z). As fases S, têm inicialmente energia nas 3 componentes (SV e SH), mas as reflexões sucessivas à superfície tendem a reforçar a polarização SH enquanto que a energia SV se perde por conversão em fases SP. Por isso, as fases SS, SSS etc., apresentam um carácter fortemente polarizado no eixo T.